Caminho

22 de dezembro de 2009

Tento encontrar nas únicas palavras que restam ou restaram a calma que sempre tive, a mesma lucidez e a mesma tranquilidade. Sinto-me mórbido, mais morto que vivo. Não consigo respirar com a culpa em cima do meu peito, no meu peito duro, calejado por todas as pedras atiradas. Culpa que nem sei se é minha, mas nunca soube se cheguei para tudo o que tento edificar. Tento encontrar o caminho, mas sempre tive um único caminho; o caminho de uma vida desgastada pelo tempo e pelo que o tempo me traz. Nesse caminho foram entrando pessoas que me compreendiam, que nunca me julgavam, que estariam aqui para o que desse e viesse. A princípio eram alguns, diria muitos, mas a vida leva-me cada pessoa que me ia restando, umas por opção delas, outras levadas por algo que julgavam a mesmas ser superior. Mas sempre tive manhas e manias de desviar tudo o que me fazia rasteiras; uma destas maneiras era ignorar. Ignorar o que me era feito. Ignorei tanto, em tanto tempo que me ceguei a mim próprio. Custa não conseguir ver e mesmo assim sentir as mãos molhadas por lágrimas de pura dor. Dor que não consigo curar; sendo lógico nunca consegui curar e nunca irei conseguir. Hoje, e não me orgulho disto, sinto-me a caminhar sozinho no meu caminho que sempre esteve aberto para todos numa vida de ódios e conversas mal feitas que me correm por dentro. Quem me dera conseguir ir por atalhos mas isto é o que tenho, uma vida do avesso.

Não sinto o calor do sangue, não sinto o chorar, não sinto o meu corpo. Sinto-me noutro lugar, morto no caminho que me ajudaram a traçar.